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ESTRATÉGIAS: Avaliação e educação podem evitar 90% dos acidentes com crianças

Em Fortaleza, a maior incidência das lesões está relacionada a quedas. Especialista alerta para o risco de traumatismo craniano, com risco de sequelas

Já diz o velho ditado: com criança, todo cuidado é pouco. Se a época é de férias escolares a atenção precisa ser maior ainda. Longe das atividades escolares e dos cuidados dos professores, os pequenos têm o dia inteiro para brincar, se divertir e explorar lugares e ambientes. Durante esse período, então, há uma maior propensão à ocorrência de acidentes graves, especialmente os domésticos.

Relatório da Rede Nacional Primeira Infância aponta como as principais causas de morte de crianças a partir de um ano de idade, no Brasil, as lesões decorrentes de acidentes de trânsito, envenenamento, afogamento, quedas e queimaduras. Os dados foram retirados do Datasus, sistema de dados do Ministério da Saúde, do ano de 2012. Foram considerados, para a Primeira Infância, dados de zero a nove anos de idade.

Para a Organização Não-Governamental (ONG) Safe Kids Worldwide, no entanto, 90% dessas lesões poderiam ter sido evitadas a partir de estratégias como avaliação; educação; modificações de engenharia e do meio ambiente; criação e cumprimento das leis. Cabe aí, então, a adequação dos ambientes onde a criança vive e a educação de seus cuidadores para reconhecerem os perigos e terem uma supervisão mais ativa.

Enquanto essa realidade não muda, os casos se mostram recorrentes pelo País. Dados do relatório apontam que os acidentes com crianças de zero a nove anos foram responsáveis por 3.142 mortes e mais de 75 mil hospitalizações em um ano. Das mortes, 33% foram por acidentes de trânsito, 23% por afogamentos, 23% por sufocação, 7% por queimaduras, 6% por quedas e mais 6% por outras causas.

Cuidados

O relatório alerta para a necessidade de cuidados específicos para cada fase do desenvolvimento da criança. Em menores de um ano, por exemplo, a maior causa de mortes é por sufocação, o que representa 70% dos óbitos, conforme o levantamento. Já entre um e quatro anos, o maior número é de afogamentos, com 34%. Na faixa etária de cinco a nove anos, mais da metade das mortes (49%) vem dos acidentes de trânsito, seguido do afogamento, prevalecente em 26% dos casos de morte.

A Rede Nacional Primeira Infância estima, ainda, que, a cada morte, outras quatro crianças apresentam sequelas durante a vida, causa, possível, de consequências emocionais, sociais e financeiras a família.

Por taxa, a região Centro-Oeste é a maior do Brasil, com 14,31% de mortes por cada grupo de cem mil habitantes, seguido das regiões Norte (13,90%), Sul (12,16%), Sudeste (10,03%) e Nordeste (9,60%).

Políticas Públicas

A coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Alessandra Francóia, explica que o objetivo do relatório é chamar atenção para o problema. “Queríamos fazer essa suposição: o que se pode fazer para reduzir esses acidentes? Trouxemos o tema à tona para mostrar a realidade e pedir apoio das instituições que trabalham com o tema família e do governo para reduzir essas mortes”, esclarece.

Uma das conclusões do levantamento, acrescenta ela, é que não existem políticas públicas voltadas para essa problemática em todo o País. “Mandamos esse questionamento para todos os estados. Alguns responderam algo totalmente diferente do que perguntamos e outros falaram não fazer esse trabalho mas que iriam analisar a possibilidade. Não existe, hoje, uma política pública sequer com orçamento e metas estabelecidas”.

Em questão de gênero, o Relatório indica os meninos como as maiores vítimas das ocorrências no país, respondendo por mais de 60% das mortes causadas por acidentes na primeira infância. “Estudos de especialistas em desenvolvimento infantil apontam que a própria criação do menino é diferente, mais livre, enquanto que a menina tende a ser mais protegida, então eles estão muito mais expostos aos riscos de acidentes”, comenta.

Alessandra Françoia explica, ainda, que a vulnerabilidade social é um fator que expõem de forma maior a criança aos riscos. “Um relatório da Organização Mundial de Saúde aponta que condições precárias de educação, taxa de escolaridade da mãe, famílias numerosas em condições de moradias precárias faz com que a criança fique mais vulnerável. Mas vale ressaltar que os acidentes são democráticos, ocorrem em qualquer classe social”, esclarece.

A dona de casa Michele de Sousa, 36, infelizmente sentiu o quanto um acidente dentro de casa pode trazer consequências graves. Há cerca de seis meses, seu filho de dois anos de idade levou uma descarga elétrica, vindo a falecer após cinco dias de internação.

A mãe conta que a família estava reunida na área da casa e que o caçula entrou rapidamente em direção ao quarto dos pais. Segundo ela, logo depois entrou atrás do filho, mas ao chegar no cômodo ele já estava inconsciente, depois de pegar em uma extensão de energia que estava ligada. “De imediato levamos para o hospital do Conjunto Ceará e de lá ele foi transferido ao IJF”.
A dona de casa alerta os pais para terem o máximo de atenção com os filhos pequenos. “Criança tem muita energia. Não deixávamos ele sozinho, até deixava de fazer minhas coisas para ficar com ele, mas em menos de um minuto isso aconteceu”.

Queda é a maior incidência

Em Fortaleza, não há dados estatísticos sobre acidentes envolvendo crianças, segundo informou o Instituto Dr. José Frota (IJF), mas a coordenadora da Comissão de Prevenção e Atendimento aos maus-tratos contra crianças e adolescentes da Unidade, Francielze Lavor, explica que, na Capital, as quedas são as maiores ocorrências entre as crianças de zero a seis anos de idade no ambiente domiciliar. “São bem varidas. Podem ser quedas da própria altura, de escadas, das janelas dos apartamentos ou de móveis que elas escalam”, ressalta.

A médica alerta para a gravidade desse tipo de lesão, que pode deixar sequelas sérias nos pequenos. “A cabeça da criança é proporcionalmente maior do que o corpo e como é a parte que mais pesa é a que tem mais impacto. Uma criança com traumatismo craniano tem mais probabilidade de evoluir com uma sequela neurológica”, esclarece.

Perigos

Ainda conforme a coordenadora da Comissão, as residências trazem outros perigos, como afogamentos em piscinas ou queimaduras, dando como orientação aos pais evitar ter álcool líquido em casa e ter a criança no colo enquanto manuseia alimentos quentes. “Os cabos das panelas devem estar sempre voltados para a parte interna do fogão e quando a criança estiver na fase de engatinhar é bom retirar as toalhas da mesa, pois elas podem puxar e tudo vai cair em cima dela”, aconselha.

Outro risco, diz ela, é referente aos choques elétricos, muitas vezes ocasionados pelo uso de tomadas inadequadas na residência, além das possibilidades de intoxicação com uso excessivo de medicamentos, venenos ou produtos de limpeza deixados ao alcance das crianças. “Esses produtos devem ficar trancados em armários altos”.

Existe, também, conforme Francielze Lavor, a ingestão de corpo estranho, que pode ser aspirado para os pulmões. “As crianças as vezes brincam com grãos, pequenas peças de brinquedos, baterias de tamanho menor ou tampas de caneta”, diz.

A especialista destaca, ainda, que todos os eventos citados são evitáveis, estando muito relacionados a vigilância dos pais e educadores. “Todas as brincadeiras devem ser vigiadas”, orienta.

Fonte: Diário do Nordeste

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